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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Não me livro

Não me livro.

Simplesmente não consigo me livrar.

Para começar 
não me livro de mim, 
nem do meu nome,
nem de onde quero chegar.

Não me livro das antigas manias,
do jeito que olho,
de como penso,
ou do modo de falar.

Não consigo me livrar das regrinhas,
da preocupação métrica e da rima,
dos jogos que gosto de jogar,
da língua culta ou da informal.

Não me livro dos meus vícios,
não me livro da cafeína, da cocaína, 
nem da neosaldina, novalgina, benzina,
ou qualquer "ina" que possa me sustentar

Não me livro dos conceitos, dos preconceitos,
da minha atitude arrogante,
ou de achar que meu saber vai fazer mudar.

Não me livro do meu querer,
da minha abundância e da vontade de ter mais,
não me livro do dinheiro,
da casa na praia, do carro do ano, e da melhor mulher que eu puder comprar.

Não me livro da minha namorada,
não me livro da minha cerveja gelada,
ou da bebida destilada,
se não conseguir me livrar da vontade de não engordar.

Não me livro das fórmulas para emagrecer,
das propagandas tão bonitas,
da comida gorda e farta,
nem do meu criticar

Não me livro da vontade de ir no verão à Europa,
nem de ir fazer compras nos Estados Unidos,
não me livro do meu prazer sexual,
ou de qualquer outro querer banal.

Não me livro do conflito,
não me livro da injustiça,
não me livro do medo,
não me livro da matança,
não me livro da violência,
não me livro da ignorância,
não me livro da maledicência,
não me livro da minha impaciência,
do meu orgulho, da minha padronização, 
da minha verdade mentirosa e enganosa,
da minha superiorização, do meu preço,
do meu facebook, do meu twitter, 
da minha vontade de me mostrar o melhor,
da minha indústria, da minha empresa,
da minha terra, da minha água, do meu umbigo.

Simplesmente não consigo me livrar de nada.

Ou talvez,


Eu tenha me livrado da minha liberdade.

Ou será se não consigo me livrar do meu antagonismo?


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